De Tulio Carella
Antes do relançamento pela editora Opera Prima este ano, “Orgia” havia tido apenas uma edição, nos anos 1960. Esgotada, rara e famosa no meio teatral – tão famosa, aliás, que meu exemplar foi parar por alguns minutos nas mãos de Fernanda Montenegro em um hotel de Brasília (ela viu o livro de longe, nas mãos de Carlos, e se aproximou pedindo pra olhar). Enfim. “Orgia” é o diário do dramaturgo argentino escrito ao longo dos meses em que morou no Recife, convidado para uma cadeira de professor na Universidade Federal de Pernambuco. Sozinho, estranhando o calor e extremamente carente, ele se lança nas ruas da cidade atrás de companhia. E o que encontra são outros homens, fascinados por seu sotaque estrangeiro, por sua pele branca e pela promessa implícita de dinheiro ou presentes. Texto erótico, explícito e desconcertante – mas não por causa das duas primeiras qualidades. Aqui e ali, Carella reflete sobre a solidão, se pega também fascinado pelo “outro”. Às vezes se pergunta: “afinal, o que é um negro?”. Puta livro, viu?
(Publicado originalmente no Facebook em 27 de julho de 2011)
Estou lendo agora esse livro, simplesmente maravilhoso, de uma coragem e ousadia ímpar.
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Né? Pena que não tenha sido reimpresso.
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