A Ilíada é composta por 24 cantos, que seriam mais ou menos equivalentes a capítulos. O tamanho deles possivelmente corresponde ao tamanho dos rolos onde eram escritos, sendo a limitação de espaço que determinava quando um canto terminava e outro se iniciava. Antes de saber disso, no entanto, eu fiquei várias vezes impressionada com o que achei ser cliff hangers no fim de um canto, rs.
Aqui, faço um micro resumo de cada canto a partir das minhas anotações – e foram muitas, sete folhas A5 com letra miúda. É bem possível que haja imprecisões, porque anotei no calor da leitura, então use com moderação. E se localizar alguma informação errada, deixe um alô nos comentários.
Se quiser se aprofundar em outros aspectos desta obra, leia também o post Para ler a Ilíada.

Canto I – Tudo começa com Aquiles pistola porque Agamêmnon mandou confiscar os tesouros que ele havia levantado no saque a uma cidade – o que incluía uma mulher chamada Briseida. Indignado com o que considera uma injustiça, ele se recusa a continuar lutando e começa a questionar o sentido da guerra.
Canto II – Zeus manda um sonho para Agamêmnon dizendo que é um bom momento para atacar os troianos. A intenção de Zeus é restaurar a honra de Aquiles. Homero faz uma espécie de inventário de todos os reinos gregos presentes à Guerra, indicando os reis, suas cidades e quantas naus cada um trouxe.
Canto III – A ação passa à Troia, onde também há conflitos internos. No campo de batalha, Alexandre (Páris) veste uma pele de leopardo, todo pimpão, mas quando vê Menelau, dá meia volta e se esconde no meio da tropa. Heitor passa-lhe um sermão, dizendo que ele é “guerreiro só na aparência”. Do alto da muralha, Helena mostra a Príamo quem é quem entre os gregos. Páris é desafiado por Menelau e quase se fode, mas Afrodite o salva e magicamente o tira do campo de batalha direto para a cama. A deusa insinua a Helena que vá lá confortar o moço, mas Helena, muito do saco cheio, manda ela própria ir consolar Páris.
Canto IV – No Olimpo, Zeus e Hera discutem sobre Troia, que é a cidade preferida de Zeus – mas ela quer que ele deixe de protegê-la. A cena vai para o campo de batalha, onde Menelau é ferido na primeira leva de lutas que é descrita em detalhes no poema – o presságio de que a ausência de Aquiles pode fazer os gregos se darem mal.
Canto V – O combate continua. Atenas orienta Diomedes a não entrar em combate direto com nenhum deus – salvo Afrodite, a quem ele fere no pulso. Ele é o principal guerreiro grego depois de Aquiles. Ares luta ao lado de Heitor, e acaba também ferido por Diomedes (percebam: deus da guerra ferido por um mortal). Numa cena LINDA, Atena veste as roupas de Zeus para lutar:
Porém Atena, filha de Zeus detentor da égide,
deixou descair sua veste macia no chão de seu pai –
veste bordada, que ela própria fizera com as suas mãos.
Vestiu a túnica de Zeus que comanda as nuvens
e envergou as armas para a guerra lacrimosa.
Em torno dos ombros atirou a égide borlada,
terrível, toda ela engalanada de Pânico: nela
está a Discórdia, está a Sanha, está o gélido Assalto,
está a cabeça monstruosa da Górgona, terrível
e medonha, portento de Zeus detentor da égide.
Na cabeça colocou o elmo de dois chifres e quatro bossas
dourado, equipado com os peões de cem cidades.
Pisou com os pés o carro flamejante
e pegou na forte lança de brônzea ponta,
pesada, imponente, enorme: com ela fileiras de heróis subjuga,
contra quem se enfurece de tão poderoso pai nascida.
É um dos melhores cantos do poema inteiro.
Canto VI – Os troianos são novamente empurrados para dentro das muralhas. Heitor vai à cidade pedir para que façam oferendas a Atena. Fala com sua mãe, Hécuba, e vai à casa de Páris chamá-lo de volta à batalha. Lá, ele encontra Helena, cheia de remorso pelo sofrimento que ela está causando à cidade. Nesse momento, ela pensa em como o destino doloroso foi designado por Zeus “para que no futuro sejamos tema de canto para homens ainda por nascer”. Depois Heitor vai para casa encontrar sua esposa, mas fica sabendo por uma criada que Andrômaca foi até as muralhas com o filho tentar vê-lo. Eles se encontram pela última vez e ela pede que ele não volte ao campo de batalha; mesmo assim, o aconselha sobre estratégia de posicionamento das hostes troianas. A cena da despedida entre Heitor e Andrômaca é muito bonita, mas achei mais singela ainda a despedida entre Heitor e seu filho, ainda bebê:
Assim falando, o glorioso Heitor foi para abraçar o seu filho,
mas o menino voltou para regaço da ama de bela cintura
gritando em voz alta, assarapantado pelo aspecto de seu pai amado
e assustado por causa do bronze e da crista de crinas de cavalo,
que se agitava de modo medonho da parte de cima do elmo.
Então se riram o pai amado e a excelsa mãe:
e logo da cabeça tirou o elmo o glorioso Heitor,
e deitou-o, todo ele coruscante, no chão da casa.
Em seguida, beijou e abraçou o seu filho amado (…)
Canto VII – Atena desce do Olimpo para interferir nos avanços de Heitor, ao lado de Páris e Glauco. Apolo, disfarçado, incita Heitor a chamar um duelo e assim encerrar a guerra. Ájax (grego) é sorteado para lutar contra Heitor. Eles começam, mas dois arautos aconselham que façam uma trégua para que ambos os lados possam enterrar seus mortos. Os gregos constroem uma muralha para proteger o acampamento.
Canto VIII – Zeus ordena aos deuses que não interfiram na batalha. Atena diz que acata a ordem, mas mesmo assim vai aconselhar os gregos. Zeus joga um raio para assustar o cavalo de Diomedes e assim ajudar Heitor naquele momento. Hera e Atena se enfurecem, e Zeus explica que está atuando para manter os rumos da guerra tal qual determinado pelo destino:
“Ao nascer da aurora verás o Crônida poderosíssimo
(se quiseres, ó Hera soberana com olhos de plácida toura)
destruindo o exército numeroso dos lanceiros Argivos.
Pois não desistirá da guerra o temível Heitor
antes que junto às naus se erga o Pelida de pés velozes,
no dia em que às popas das naus combaterão
no mais terrível aperto em torno de Pátroclo morto,
tal como está destinado”.
Canto IX – Agamêmnon convoca uma assembleia entre os gregos e chora, querendo convencê-los a fugir, mas Diomedes se opõe veementemente à ideia. Nestor argumenta que Agamêmnon deve ir pedir desculpas a Aquiles. Ele concorda e enumera os presentes que enviará, incluindo Briseida. Ulisses é um dos escalados para ir até a tenda de Aquiles, e tenta convencê-lo de que vale a pena lutar pelos gregos, mesmo que odeie Agamêmnon. Fênix, antigo servo de Aquiles, também tenta convencê-lo a aceitar os presentes e voltar à guerra. Mas o filho de Tétis está irredutível e faz um longo discurso, em que questiona os motivos da guerra:
“(…) não há consideração
para quem luta permanentemente contra homens inimigos.
Igual porção cabe a quem fica para trás e a quem guerreia;
na mesma honra são tidos o covarde e o valente:
a morte chega a quem nada faz e a quem muito alcança.
Nunca tive vantagem alguma por sofrer dores no coração
ao pôr constantemente em risco minha vida na guerra.
(…) Mas por que razão
têm os Aqueus de combater os Troianos? Por que reuniu
e trouxe para cá a hoste o Atrida? Por causa de Helena?
São apenas os filhos de Atreu que gostam das suas mulheres,
entre os homens mortais?
(…) Pois extorquíveis são bois e robustas ovelhas
e adquiríveis são trípodes e flavos cavalos; mas que a vida
de homem volte de novo, depois de lhe passar a barreira
dos dentes, isso não é possível por extorsão ou aquisição.
Na verdade, me disse minha mãe, Tétis dos pés prateados,
que um dual destino me leva até ao termo da morte:
se eu aqui ficar a combater em torno da cidade de Troia,
perece o meu regresso, mas terei um renome imorredouro;
porém, se eu regressar para casa, para a amada terra pátria,
perece o meu renome glorioso, mas terei uma vida longa,
e o termo da morte não virá depressa ao meu encontro.
Assim, ele anuncia que irá colocar os barcos na água e partirá para casa no dia seguinte.
Canto X – Desolados, os gregos acordam no meio da noite para tentar algo contra os troianos. Diomedes e Ulisses se voluntariam para se infiltrar no acampamento dos inimigos antes da aurora. Do outro lado da cerca, Heitor faz a mesma coisa, e promete dar o carro e os cavalos de Aquiles a quem topar. Dólon, enviado por Heitor, encontra Diomedes e Ulisses no meio do caminho. Termina decapitado, o coitado, depois de responder perguntas dos dois quanto à vigilância no acampamento troiano. Outra cena bonita no fim desse canto: Diomedes e Ulisses entram no mar para se lavar antes de entrar de volta numa das tendas para jantar.
Canto XI – Zeus manda a deusa Discórdia para o acampamento dos gregos e eles decidem não fugir. Os troianos se preparam e o combate continua. No meio da batalha, Páris atinge Diomedes no calcanhar; Ulisses vai ajudá-los e os dois são encurralados pelos troianos. Ulisses é atingido e urra de dor ao arrancar a lança do próprio corpo. Ájax e Menelau conseguem resgatar os dois. De sua tenda na praia, Aquiles vê os gregos fugindo e começa a se preocupar. Ele envia Pátroclo à tenda de Nestor para saber quem estava machucado. Nestor sugere que Pátroclo surja na batalha usando as armas de Aquiles, para assustar os troianos.
Canto XII – Explica-se que a muralha e a vala construídas pelos gregos não funciona porque não foram feitas as devidas oferendas aos deuses, que decidem destruí-la, e Heitor consegue avançar. Ao jogar uma pedra pra dentro da muralha, os gregos correm. Aqui, surge um spoiler: neste canto, é dito que Ílion é saqueada e os gregos voltam pra casa no 10º ano da guerra – portanto, sabemos que a Ilíada está no fim desta narrativa. É um spoiler engenhoso, pois a destruição da muralha deixaria o leitor imaginando que os gregos serão derrotados, mas assim ficamos tentando imaginar como será a reviravolta que os fará vencer. Aqui, Homero aparece na história, se implicando como narrador:
E difícil seria para mim narrar tudo como um deus.
É que por toda a parte brotava o fogo ardente
da pétrea muralha; os Argivos acabrunhados
defendiam à força as naus. E aos deuses doía o coração,
a todos quantos queriam auxiliar os Dânaos em combate
Canto XIII – Zeus incita os troianos a se desinteressarem da guerra, como crianças enjoando do brinquedo. Posêidon se ergue do mar e vai animar os gregos, que fazem uma muralha humana coordenada pelos Ajantes*. Aqui começam a aparecer em mais detalhes os relatos da recolha das armas dos mortos por seus inimigos, como troféus. A luta está tão próxima do acampamentos dos gregos que eles vão buscar armas nas tendas e voltam. A luta começa a se equilibrar, os gregos controlando os troianos perto dos navios. Bem de saco cheio, Heitor dá outra bronca em Páris, dessa vez um pouco injusta. O fim do canto parece ser o auge da batalha, os dois lados levantando clamores a Zeus. No meio do canto, Idomeneu fala da diferença entre covardes e valentes, e se refere à luta como uma cópula:
“Sei como és valoroso. Por que razão precisas dizer essas coisas?
Pois se agora junto às naus nos reuníssemos, nós os melhores,
para uma emboscada, situação em que melhor se avaliar o valor
dos varões, onde tanto o covarde como o valente se revelam –
é que a pele do covarde está sempre a mudar de cor,
nem o ânimo lhe assenta imperturbável no espírito,
mas fica irrequieto e apoia-se ora num pé, ora no outro,
e o coração bate com força dentro do peito
ao pressentir a morte e na boca lhe chocalham os dentes;
porém a cor do valente não se altera nem sente medo
em demasia, depois de estar no seu lugar na emboscada
de varões: reza é para depressa entrar na cópula da luta funesta –
ora nem em tal situação tua força ou teus braços seriam aviltados!
E se fosses atingido por um dardo na labutação da refrega.
ou ferido por um golpe, não seria por trás ou no pescoço
que o projétil te atingiria; mas apanhava-te no peito ou na barriga,
no momento de te lançares em frente para namorar os dianteiros.
(…)”
*tem dois Ájax entre os gregos, eles não são parentes, mas juntos são chamados de Ajantes.
Canto XIV – Uma conferência entre Nestor, Ulisses e Agamêmnon – que continua querendo fugir! Ulisses fica puto e Diomedes também reclama, mas desta vez de forma mais apaziguadora. Posêidon se disfarça de velho e vai para o meio dos gregos para incitá-los. Hera observa do Olimpo e cria um plano de fazer Zeus adormecer para que os deuses a favor dos gregos possam agir livremente: a ideia é seduzi-lo para transar, para que ele cochile depois. Ela consegue. Posêidon incita os gregos ainda mais. Heitor é derrubado por uma pedra jogada por Ájax e é recolhido pelos companheiros.
Canto XV – Os troianos fogem para além da vala e muralha. Zeus acorda e fica enfurecido com Hera, que pede meias desculpas, dizendo que não fez Posêidon mudar o que ele já estava fazendo. Zeus manda o irmão parar de ajudar os gregos e Apolo de incitar os troianos, mas já adianta que Aquiles voltará à batalha e Ilíon será saqueada. Posêidon primeiro se nega a cumprir as ordens de Zeus, mais logo cede ao irmão mais poderoso. Enquanto isso, Heitor segue fora de combate, com os efeitos da pedrada sendo descritos em detalhes. Apolo derruba a muralha dos gregos com um peteleco. Homero revela que Zeus apoiará os troianos só até que as preces de Tétis sejam atendidas – ou seja, quando Aquiles retornar à batalha com sua honra restaurada. Em mais um spoiler, se diz que Heitor será morto por Aquiles. O canto termina com Pátroclo incomodado pelos rumos da guerra.
Canto XVI – Pátroclo chega chorando na tenda de Aquiles e pede que o deixe lutar com suas armas e o exército dos mirmidões. Aquiles concorda. Zeus assiste à batalha virando e faz menção de tirar o filho troiano Sárpedon do combate, mas Hera o convence de que isso causaria a ira dos outros deuses. Sárpedon morre, e começa uma disputa entre gregos e troianos por suas armas. Zeus pensa consigo se deve deixar Pátroclo ameaçar Troia ou se provoca logo a sua morte. Acaba incitando Heitor a avançar. Zeus e Apolo tiram as armas e proteções de Pátroclo, que é atingido por trás por uma lança. Com Pátroclo já ferido, Heitor enfia uma lança em seu ventre.
Canto XVII – Menelau percebe que Pátroclo morreu e corre para proteger o corpo – aqui, percebam que o tema do corpo de Heitor que será confiscado por Aquiles já está sendo colocado. Heitor corre para combater com Menelau, que foge para buscar ajuda da Ájax. Heitor pega as armas e armadura vestidas por Pátrocolo (ou seja, tudo de Aquiles) e joga o corpo aos cães. Depois, foge de Ájax. Glauco repreende Heitor por ter deixado o corpo de Pátroclo, que poderia ter sido trocado pelo de Sárpedon. Há uma disputa pelos cavalos de Aquiles, mas o cocheiro consegue fugir com eles de volta para o acampamento grego. Zeus manda Atena incitar os gregos. Menelau manda Antíoco avisar Aquiles sobre a morte de Pátroclo. Liderados por Menelau e os Ajantes, os gregos fazem uma última tentativa de recuar levando o cadáver. Heitor e Enéias continuam avançando.
Canto XVIII – Aquiles recebe a notícia da morte de Pátroclo e entra em tal estado de desespero que Antíoco receia que ele vá se matar. Tétis, sua mãe, sente o sofrimento do filho e vai até ele. Conversam, e ela promete ir ao Olimpo falar com Hefesto para pedir que faça novas armas para Aquiles. Íris vai levar um recado de Hera e sugere que ele se mostre aos troianos mesmo sem as armas. Atena também vai dar apoio a Aquiles. Ele se mostra aos troianos e grita três vezes. O corpo de Pátroclo chega às naus e os troianos se recolhem em assembleia, claramente com medo. Do outro lado, Polidamante opina que os troianos se recolham à cidade, o que revolta Heitor, que acredita ter o apoio de Zeus. Tétis chega ao palácio de Hefesto – que é cheio de autômatos! O deus a recebe muito bem, pois foi Tétis que o recolheu e o criou quando Hera o atirou do Olimpo ainda bebê. Hefesto é o ponto alto deste capítulo, tanto por conta da descrição do seu palácio e dos criados autômatos quanto do escudo que faz para Aquiles, extremamente detalhado.
Canto XIX – Tétis chega com as armas e encontra Aquiles agarrado ao corpo de Pátroclo. Ele sente raiva quando veste a armadura – mas também prazer. Aquiles convoca uma assembleia e pede desculpas por sua atitude. Já Agamêmnon coloca a culpa nos deuses e oferece novamente os presentes a Aquiles, que quer ir logo para a guerra. Ulisses sugere que todos comam primeiro, e pede que Agamêmnon honre os presentes, o que inclui jurar que não dormiu com Briseida. Ela volta para a tenda de Aquiles. Neste canto, se revela um dos motivos pelos quais Aquiles tanto sofre a morte de Pátroclo: sabendo que ele mesmo vai morrer em Troia, contava com o amigo para cuidar do seu filho, entregar-lhe suas armas e contar de seus feitos. Mesmo com todos comendo, Aquiles ainda jejua. Zeus se compadece e pede que Atena vá ajudá-lo. Ela desce à terra e o alimenta com néctar e ambrosia, normalmente reservados apenas aos deuses. Aquiles veste as novas armas e sobe no carro com os cavalos do seu pai, Xanto e Bálio. Ele reclama por não ter mais Pátroclo como escudeiro – e Xanto o responde!
“Xanto e Bálio, famigerados filhos de Podarga!
De outra maneira pensai em trazer salvo o vosso cocheiro
para cá da chusma dos Dânaos, quando nos saciarmos da guerra,
e não o deixeis lá morto, como fizestes com Pátroclo!”Respondeu-lhe debaixo do jugo o cavalo de céleres patas,
Xanto; de repente baixara a cabeça e toda a crina caía
solta da coleira junto do jugo até tocar no chão
de fala o dotara a deusa, Hera de alvos braços:
“Pois desta vez te salvaremos, ó possante Aquiles.
Mas perto já está o dia em que morrerás. Culpados não
seremos nós, mas um deus poderoso e o Fado tremendo.
Não foi por causa da nossa lentidão ou preguiça
que os Troianos conseguiram arrancar as armas de Pátroclo;
foi o melhor dos deuses, a quem Leto deu à luz,
que o matou entre os dianteiros, dando glória a Heitor.
pela nossa parte correríamos com o sopro do Zéfiro,
que segundo se diz é o mais veloz dos ventos. A ti está fadado
que por um deus e por um homem sejas à força subjugado”.Depois que assim falou, as Eríneas privaram-no da fala.
(…)
Canto XX – Zeus convoca o concílio dos deuses e diz que não intervirá na guerra, mas libera os demais a ajudar o lado que lhes aprouver. A preocupação de Zeus é que Aquiles está tão irado que vai fazer além do previsto e arrasar as muralhas da cidade. Apolo incita Enéias a lutar contra Aquiles. Posêidon protege Enéias e o tira da briga pelo ar, no meio da luta – pois Enéias está destinado a ser um único homem troiano sobrevivente da guerra*. Aquiles mata o filho mais novo de Príamo e Heitor vai atacá-lo. Atena e Apolo intervém e eles se afastam. Aquiles continua matando os troianos, um a um, com descrições bem violentas.*Enéias depois será o personagem principal de Virgílio na Eneida, poema que narra sua fuga de Troia e chegada na Península Itálica, onde será ancestral dos romanos.
Canto XXI – (Antes do resumo, é importante saber que, na mitologia grega, todos os rios são deuses) Aquiles encurrala os troianos no rio Xanto, que reclama não poder desaguar pois está cheio de cadáveres. Aquiles luta contra o próprio rio e clama pela ajuda de Zeus para não morrer afogado – e de forma totalmente idiota. Atena e Posêidon vão ajudá-lo. Também chamado de Escamandro, o rio quer proteger a cidade de Príamo. Quando Hefesto intervém a favor de Aquiles, enchendo o rio de fogo, Xanto desiste, pensando “o que tenho eu a ver com a guerra?”. Começa uma briga entre os deuses e Zeus olha de longe, rindo. Atena dá um murro em Afrodite (!!!). Posêidon e Apolo conversam, questionando-se porque se afastaram – foram os dois, juntos, que construíram a muralha de Troia. Apolo desiste da guerra e sua irmã Artémis o repreende. Hera reclama com Artémis e chega a bater nela, que vai reclamar com Zeus. Aquiles empurra os troianos pra dentro das muralhas da cidade. Príamo manda abrir os portões para que seus soldados entrem. Apolo distrai Aquiles para ajudar na fuga.
Canto XXII – Aquiles confronta o próprio Apolo por tê-lo desviado das muralhas e permitido a fuga dos troianos. Heitor o aguarda sozinho do lado de fora, enquanto Príamo e Hécuba imploram para que entre. Na hora da verdade, Heitor fica com medo e sai correndo na tentativa de fugir de Aquiles e os dois dão quatro voltas na cidade, um atrás do outro. Atena desce do Olimpo disfarçada como Deífobo, um dos irmãos de Heitor, e o convence a lutarem “juntos” contra Aquiles. Heitor sugere a Aquiles que façam um acordo para garantir a devolução do corpo de quem deles morrer na batalha – Aquiles nega. Quando Heitor pede uma lança a Deífobo e vê que ele não está lá, percebe que foi enganado pelos deuses. Já atingido mortalmente por Aquiles, Heitor faz uma última súplica para que seu corpo seja devolvido e diz a seu inimigo que em breve ele será morto por Páris e Apolo. Os outros gregos passam pelo corpo de Heitor e o estocam antes de o levarem para as naus. Dentro da cidade, Andrômaca estava em casa, ao tear, e deixa a lançadeira cair quando ouve os gritos de sua sogra vindos das muralhas. As mulheres lamentam a morte do herói de Troia.
Canto XXIII – Aquiles chega ao acampamento dos gregos arrastando o corpo de Heitor pelos pés, atrás de seu carro. Ele enfim vai cuidar do funeral de Pátroclo. Vai falar com Agamêmnon e se recusa a se lavar enquanto não forem feitas as honras ao amigo. O fantasma de Pátroclo aparece para falar com Aquiles e pede para ser cremado logo. Também diz que Aquiles morrerá nos portões de Troia e pede para que suas cinzas sejam depositadas junto às suas. Afrodite e Apolo ungem o corpo de Heitor com ambrosia para que ele não entre em decomposição; Apolo o protege do sol. No funeral de Pátroclo, Aquiles degola doze troianos – algo notável, pois na era do bronze, quando a história se passa, os sacrifícios humanos já não eram realizados na Grécia. Ao amanhecer, depois do funeral de Pátroclo, Aquiles oferece prêmios em jogos – corridas de cavalo, pugilato etc. O prêmio para o perdedor da luta é uma mulher, que vale quatro bois – três vezes menos do que um tripé!
Canto XXIV – Os deuses se incomodam com o exagero do luto de Aquiles e o tratamento que ele dá ao corpo de Heitor. Zeus manda chamar Tétis para que ela dê um recado ao filho: que devolva o corpo de Heitor a Príamo e aceite o resgate oferecido pelo rei de Troia. Então, Zeus chama Íris para falar com Príamo e envia Hermes para ajudá-lo a chegar à tenda de Aquiles sem ser visto por outros gregos. Príamo chega à tenda de Aquiles, se ajoelha a seus pés e beija as mãos do assassino de seu filho:
“(…)
Respeita os deuses, ó Aquiles, e tem pena de mim.
lembrando-te do teu pai. Eu sou mais desgraçado que ele,
e aguentei o que nenhum outro terrestre mortal aguentou,
pois levei à boca a mão do homem que me matou o filho.Assim falou; e em Aquiles provocou o desejo de chorar pelo pai.
Tocando-lhe a mão, afastou o calmamente o ancião.
E ambos se recordavam: um deles de Heitor matador de homens
e chorava amargamente, rolando aos pés de Aquiles;
porém Aquiles chorava pelo pai, mas também, por outro lado,
por Pátroclo.
Assim, Aquiles manda limpar o corpo de Heitor e vesti-lo com seus melhores trajes antes de devolvê-lo a Príamo e promete uma trégua na guerra por doze dias para que o funeral possa ser feito como manda o ritual. Em Troia, Andrômaca, Hécuba e Helena choram por Heitor. A Ilíada termina no 12º dia do funeral, quando está sendo realizado o banquete em homenagem a Heitor.
Renata, que delícia é acompanhar o Lombada Quadrada! Dá pra ver o quanto você ama o que faz, cada texto tem aquele toque especial de quem entende de livros, cultura e sabe contar histórias com carinho. Adoro como você mistura informação com leveza. Seu blog é daqueles que a gente lê e já quer indicar pra todo mundo!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito obrigada pela visita e pelo gentil comentário, Fabíola! O Lombada é mesmo feito com muita paixão ❤
CurtirCurtir