Toda festa literária que se preze arma uma tendinha improvisada em que instala sua livraria oficial, na qual são vendidos os livros dos autores participantes, um punhado de outros títulos e badulaques em geral – ultimamente se destacam sacolinhas ecológicas com a marca do evento a preços exorbitantes. Não oferecem desconto e muito menos títulos exclusivos mas, por algum motivo obscuro, as livrarias oficiais de festas literárias são uma espécie de ringue de bibliófilos: vale tudo, até cotovelada, para garantir o melhor lugar na frente da prateleira e acesso privilegiado aos livros que ela contém. As filas são caracóis intermináveis que serpenteiam por entre as mesas e as pessoas enchem as sacolas como se não houvesse amanhã, num ataque psicótico coletivo e certamente muito lucrativo pra livraria em questão. Às vezes, a agonia se justifica pela presença dos autores no hall ao lado autografando seus livros para quem conseguir enfrentar as duas filas – a da livraria e a dos autógrafos – no exíguo tempo que o evento disponibiliza para este tête-à-tête fugaz. Mas na maior parte do tempo, não há autor autografando e a livraria permanece lotada, para desespero dos cachorros de rua que precisam assistir a esse esquisito espetáculo montado exatamente no lugar em que costumavam cochilar antes de a cidade ser invadida por bárbaros.
Durante os cinco dias de Flip, os viciados autores deste Blog visitaram a tenda da Livraria da Travessa todos os dias e levaram 11 títulos para casa, alguns relacionados às discussões da festa, outros não. Veja quais livros foram parar nas nossas estantes e por quê:
Caetés (Graciliano Ramos) – Edição comemorativa de 80 anos do primeiro romance do autor homenageado. Edição linda da Record, com capa dura e ensaios analisando a obra.
Histórias de Alexandre (Graciliano Ramos) – Uma das histórias desse livro, teoricamente infantil, foi mencionada na segunda mesa em homenagem a Graciliano. Empatia na hora, livro na sacola.
O sonâmbulo amador (José Luis Passos) – Participamos dessa mesa pra ouvir Paulo Scott e “descobrimos” José Luis Passos, que foi também mediador dos dois debates em homenagem a Graciliano – e, é preciso dizer, nunca houve mediador tão pertinente e sarcástico. Paixão à primeira ouvida. Livro na sacola e devidamente autografado.
Habitante irreal (Paulo Scott) – Esse livro estava esbarrando na gente desde o ano passado, então nada apropriado do que aproveitar o pós-debate pra sair da Flip com um exemplar autografado. Além disso, admiro a coragem de Paulo Scott: deixou uma consolidada carreira de advogado pra viver de literatura. Se garantiu.
The History of Art (Gombrich) – Tava passando por uma estante e um exemplar pulou no meu colo. Juro.
Retratos Parisienses (Rubem Braga) – Escolha de Carlos, creio que altamente influenciada pela ida recente ao Museu da Língua Portuguesa, que está com exposição (linda, aliás), em homenagem ao autor.
O Africano (Le Clézio) – Outro que pulou no colo. Como são carentes, esses livros.
Massa e Poder (Elias Canetti) – Canetti é satisfação na certa. Nesse livro de ensaios, ele analisa a ascensão de Hitler ao poder com apoio do povo alemão.
Prelúdio da Cachaça (Camara Cascudo) – Precisa explicar?
O que os cegos estão sonhando? (Noemi Jaffe) – Noemi foi mediadora de uma das mesas da Flip, que nem assistimos. O livro, baseado nos diários de sua mãe (ou avó?) depois de libertada de Auschwitz, veio pra sacola porque acompanhamos resenhas sobre a obra e tudo indica que seja ótimo.
Veneno Remédio – O Futebol e O Brasil (José Miguel Wisnik) – Em meio aos tardios protestos contra a copa no Brasil e a mensagem subtendida de que tudo não passa de circo, um livro pra refletirmos sobre a importância desse esporte como parte da cultura nacional. Estava na mira há anos.