A Queda

a-quedaImpossível avaliar a A Queda – as memórias de um pai em 424 passos sem relacioná-lo, o tempo inteiro, à persona pública do autor. O livro foi incensado por boa parte da crítica e não é ruim. Mas parece ter se tornado melhor por vir de onde veio. Diogo Mainardi nunca se furtou de falar publicamente sobre a paralisia cerebral do filho e o que pensa dela, inclusive em alguns artigos para a Veja. Em textos curtos – os passos – o livro faz associações aparentemente estapafúrdias entre o erro médico que culminou no dano irreversível à saúde de Tito e fatos absolutamente alheios a ele, mas que ganham importância numa catarse de sentimento de culpa. Mainardi escolheu o hospital em que o filho nasceria, em Veneza, com base na arquitetura de sua fachada, que lhe agradava. Logo, o arquiteto pré-renascentista que o projetou foi o responsável  pela paralisia de Tito, e assim por diante, num encadeamento até surpreendente entre fatos históricos e a condição do filho.  A expiação da culpa por meio das associações circulares (tudo volta a um determinado ponto) é um contraponto interessante – porque um tanto rancoroso – à reafirmação incessante do amor incondicional do autor pelo filho. Sim, por vezes o livro soa piegas. E fiquei pensando se as críticas positivas não têm um pouco a ver com uma certa surpresa com esse sentimentalismo, vindo do raivoso articulista que está todo mundo acostumado a ler.

2 comentários sobre “A Queda

  1. Ei, Moca: não li A Queda. Talvez porque tenha achado uma idéia semelhante a de Tezza entre outras razões. Há relação? Adorei saber de seu Blog!

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