Artemio Cruz está à beira da morte. Vegeta em sua mansão na Cidade do México após um derrame. Ele mantém a consciência, mas não tem capacidade de se comunicar com o mundo exterior e vê sua família discutir a herança de seu império de empresas dos mais variados segmentos econômicos, o que inclui um grupo de jornais influente, em um México dominado pelo PRI, o Partido Revolucionário Institucional, no poder desde a revolução mexicana do princípio do século XX. Carlos Fuentes, o autor de A morte de Artemio Cruz, que li na versão para Kindle, em espanhol, nos transporta à história mexicana da primeira metade do século passado através das memórias desse moribundo Artemio. Revolucionário de ocasião, oportunista de vocação, Artemio constroi seu império trapaceando, forjando heroísmo, fazendo acordos com capitalistas americanos, ganhando importância política na República Mexicana pós-revolucionária.
A narrativa nos leva a dias esparsos na vida dessa figura tão comum na política dos países latino-americanos, aqueles que sempre são governo, não importando a ideologia de plantão. Em tom memorialístico, o narrador é o próprio Artemio, que nos transporta de forma não linear a momentos de sua vida. Sabemos de seu único e breve amor legítimo. Entendemos como ele fez escolhas oportunas e pragmáticas.
Fuentes, que só descobri agora, se insere em uma literatura humanista e realista sem abrir mão da linguagem não linear, em que a cronologia dos fatos dá lugar aos estados mentais de um moribundo, que mistura épocas, pessoas, informações. Cabe ao leitor ser atento e construir uma história a partir dos fragmentos do pensamento de Artemio Cruz.
Grande e marcante leitura para comemorar a retomada do Lombada Quadrada em nosso primeiro post de 2014.
Lombada Quadrada 