A onomatopeia do título deste post é de Big Jato, romance de Xico Sá, publicado em 2012. Mas também está na minha memória afetiva. Não entendeu? Explico. A sopa de letrinhas remete ao barulho de um caminhão, subindo ladeira, trocando marcha, fazendo aquele crahssss que ouvi em toda minha infância. Assim como para o personagem do romance, meu pai era caminhoneiro. A chegada dele em casa era anunciada pelos grunhidos de seu Mercedes 1113, fabricado em 1974. A diferença é que meu pai transportava gasolina. O pai do romance, merda. Pensando bem, não tem grande diferença, né?
O livro de Xico Sá – sim, pessoal, o cronista e repórter de mão cheia também é romancista dos bons – me foi quase imposto por Renata. Que o leu e disse, sem rodeios: tu vai gostar. Demorei alguns meses para tirá-lo da prateleira. Mas a história do menino que lembra de sua infância, do pai, dono de um serviço de limpa fossas no sertão do Cariri, justificou a recomendação peremptória. O romance tem uma narrativa que lembra o cronista irônico, bem humorado, amante das mulheres, do futebol, da música e da cachaça. Em um tom memorialista, Xico traz ao leitor o Cariri dos anos 1970, com o olhar aguçado de um menino sobre sua família, os costumes, conflitos e a realidade de um sertão à mercê de contrabandistas de fósseis e do abandono de uma época em que a tônica era migrar para o “sul maravilha”. E, claro, a saga do Big Jato, o nome do caminhão que cruza a região carregando a carga mal cheirosa das fossas.

Big Jato, publicado pela Cia. das Letras, foi um dos indicados ao Prêmio São Paulo de Literatura em 2013, na categoria Melhor Livro do Ano. Não foi pouco para um autor mais (re)conhecido por suas crônicas, convenhamos.
Melhor ainda, para mim, foi ter comemorado essa indicação com Xico, na cerimônia do prêmio, em meio a (muitas) doses de espumante, como se pode ver por nossa expressão um tanto alegre.
Pra terminar, a grande foto que ilustra este post é de um singelo troféu dado ao livro na meca dos literatos paulistanos, a Mercearia São Pedro, ou Merça, para os íntimos. Ave, Xico Sá.