“O caboclo de lança passava bêbado, o rosto coberto de carvão ou de barro vermelho, os chocalhos soando alto, a lança rodopiando no vento.
Jogava-se na nossa porta, esperando dinheiro. Meu pai dava pouco, mas dava. Ele também gostava dos caboclos do maracatu. Só não era um deles porque não tinha dinheiro para os trajes. Entregava-me ao encantamento da figura misteriosa, que surgia do meio da cana. O meu corpo não suportaria o peso das vestimentas e eu não podia ser um lanceiro, também não servia para rei, nem para caboclo de pena, e não sabia tocar os instrumentos da orquestra. Só podia mesmo sonhar.”
Qohélet, conto de Ronaldo Correia de Brito em O livro dos homens, edição primorosa da CosacNaify (2005). Tenho nem o que dizer.
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