A palavra ménage, em francês, significa arrumação, arranjo. Pode tanto ser usada para designar a faxina da casa, como na expressão faire le ménage, quanto para botar ordem naquela bagunça em sua mesa de trabalho. Ou, também define arranjos familiares e conjugais. E aí entra a acepção que é mais conhecida e usada em todo o mundo: o ménage à trois, prática em que um casal inclui mais uma pessoa, não importando o gênero, em seu relacionamento. Tanto de forma passageira, como numa relação contínua. Mas sempre de forma consentida.
Não é exatamente um ménage clássico que o escritor Fiódor Dostoiévski narra em O eterno marido, romance que acaba de ganhar nova edição brasileira pela Penguin Companhia, com tradução direta do russo feita por Rubens Figueiredo. A relação triangular presente no romance envolve dois homens e uma mulher, o que foge da fantasia mais recorrente da macholândia, que imagina ménages com duas mulheres, para não precisar dividir esposas, namoradas, amantes ou ficantes com outro marmanjo.
No livro, Dostoiévski nos apresenta Veltchanínov, o amante, e Pávlovitch Trussótksi, o marido de Natáli Vassílievna, que faz o pivô da relação entre ambos. O encontro se dá quando o marido vai a São Petersburgo em busca do antigo caso da esposa, que acaba de morrer. Pávlovitch o persegue por dias a fio pelas ruas da cidade usando no chapéu uma fita que indica o luto. O antigo amante não o reconhece, mas percebe sua incômoda presença. Até que o marido bate à porta da casa de Veltchanínov e se apresenta, relevando sem qualquer eufemismo que sempre soube da relação de sua falecida mulher com outros homens, inclusive o longo relacionamento que teve com Veltchanínov, em tempos passados.
Começa aí uma série de encontros, uma sucessão de diálogos e de acontecimentos bizarros. Marido e amante passam a duelar verbalmente, mas sem a presença do ciúme ou a expectativa de um acerto de contas. Pelo contrário. Para o marido, as relações da mulher com outros homens, e com esse em especial, sempre foram parte do “pacote” do casamento. Ou seja, eram um arranjo, mesmo que não explicitado. Uma espécie de liberação permanente para o ménage, mesmo que por muitas vezes os amantes não tivessem ciência dessa aceitação.
A relação entre os dois homens tem como pano de fundo algo que a falecida deixa como “herança”. E que o marido busca desesperadamente repassar ao amante. Esta é uma das surpresas do romance e, claro, não serei eu a fazer spoiler.
“O eterno marido” é um romance sobre o casamento. Também é um livro sobre a moral russa do século XIX, um período conturbado – aliás, quando a Rússia não é conturbada? – vivido sob o autoritarismo dos Czares, marcado por relações de poder baseadas em corrupção, violência policial e perseguições. E tudo isso aparece, em alguma medida, na história narrada por Dostoiévski. Mas é sobretudo para a instituição do casamento que o escritor parece voltar suas baterias. Não se trata de uma apologia ao ménage e às relações abertas. Há um certo moralismo nessa narrativa, embora não de forma contundente. Mas são as relações baseadas em interesses econômicos ou de ascensão social que parecem ser o alvo da crítica feita em uma linguagem incrivelmente coloquial.
Dostoiévski tem o dom de construir diálogos naturais, que, mesmo na forma textual, te transportam para a oralidade. Interrupções, frases que ficam soltas no ar ocupam os longos colóquios. As conversas entre marido e amante são fluidas. Lemos como se estivéssemos ali, na mesa ao lado, escutando tudo. Mas nada é superficial, pois ele consegue também desenvolver reflexões profundas e eruditas sobre a sociedade russa, os costumes e as relações.
O romance foi bem recebido pela crítica e teve bom público, o que ajudou o escritor a saldar parte de suas impagáveis dívidas, contraídas principalmente com a jogatina em cassinos. Foi um período em que Dostoiévski escreveu diversas obras a toque de caixa, para tentar fazer dinheiro. E nem por isso deixou de lado a capacidade de narrar e influenciar as gerações futuras de escritores.
Se transportarmos a temática de O eterno marido para os nossos tempos podemos concluir que pouco mudou. Sim, existe uma crescente liberdade – pelo menos por enquanto – para viver as políticas do corpo. Práticas sexuais que fogem ao padrão heteronormativo ganham espaço, não sem provocar reações conservadoras. Mas muito do que se vive sob o chapéu da liberdade sexual está marcado pela ótica do machismo, que busca ditar o que pode ser a fantasia de um casal, normalmente vivida sob os desejos do homem, como no mais comum dos ménages, que citei no começo do texto. O que talvez esteja mudando – e é importante que mude – é que as mulheres estão gradativamente tomando conta de seu corpo, de seus desejos. É uma mudança necessária, que assusta a imensa maioria dos homens, mas o que se espera é que nada possa deter esse movimento.
P.S.: na foto em destaque, obra que foi exposta em 2014 na Pina Estação, cujo autoria não consegui recuperar. No romance, a simbologia do chifre ligada à traição aparece várias vezes, o que mostra a universalidade da “gaia”.
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Muitos maridos sentem vontade de ver sua esposa transando com outros homens.
Coloco-me á disposição de casal com esposa liberada ou mulher sozinha fogosa carente.
Sou do interior paulista, ddd prefixo 15
taradofetiche@outlook.com
Venha com o fundo da calcinha molhadinha, do jeito que eu gosto.
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