Quem tem biblioteca tem poeira – eis uma verdade universal.
É natural da forma como acumulamos e guardamos livros que eles acabem sujeitos ao pó: eles estão lá, todos juntos numa estante que em geral é mais larga que os livros, o que significa a existência de um vão praticamente inacessível – exceto se você for uma micropartícula viajando livremente pelo ar e com predileção por lugares escuros e protegidos.
O jeito mais comum de guardar livros é de pé, por que isso facilita o manuseio e a organização dos volumes. Com isso, a poeira acaba se acumulando especialmente no corte superior, também chamada de cabeça – ou seja, a parte do miolo de papel que fica pra cima. E aí é que está a questão: quando você abre um livro depois de muito tempo, a poeira acumulada pode se espalhar da cabeça para dentro das páginas.
Usar líquidos pra limpar o miolo está fora de cogitação – lembrem-se, estamos falando de papel. Flanelas e espanadores também não resolvem inteiramente o problema, porque a poeira se entranha no fino espaço entre as páginas. O que fazer então?
Nossa dica matadora vem de uma técnica aprendida durante o curso de conservação e pequenos reparos em livros que fiz no ano passado na Casa Guilherme de Almeida (em São Paulo, com a professora Marlene Laky (já falei desse curso aqui).
Você vai precisar de:
1) Tesoura
2) Fita crepe
3) Broxinha – um pincel redondo de cerdas duras que você encontra em casas de artesanato. Ele precisa ter um diâmetro compatível com a largura dos livros que você pretende limpar (eu tenho três tamanhos diferentes).
Preparando o material:
Com a tesoura, apare as cerdas da broxinha pra elas ficarem mais curtas e firmes – de 1 cm a 1,5 cm é um tamanho legal. Cubra a parte de metal do pincel com fita crepe, enrolando o cabo. É uma prevenção, pra que você não acabe danificando o livro durante a limpeza.
Limpando o livro
Pegue o volume que você vai limpar e segure firmemente pelo lado do corte dianteiro, com a mão mais próxima do corte superior. A ideia é que o livro não abra lá enquanto você faz a limpeza.
Com a outra mão, você passa a broxinha com firmeza no corte superior, no sentido da lombada para o corte dianteiro. Vai sair uma quantidade inacreditável de poeira desse livro. Depois você limpa a lateral e parte de baixo do livro.
O ideal é que você arrume uma caixa grande pra usar deitada, fazendo a limpeza dentro – porque pó, vocês sabem, vai e volta no ar. A caixa vai funcionar como um coletor de poeira, evitando que a sujeira volte a se depositar no ambiente.
Se você fica doente com poeira, como eu, é recomendável usar uma máscara cirúrgica.
Outras dicas
– Os piores inimigos de uma biblioteca são calor, umidade, insetos, fungos e luz direta – tenho vários livros que ficaram com as lombadas desbotadas, no Recife, pela simples ausência de uma cortina no meu escritório.
– Limpe a estante com um pano borrifado com álcool, não com água.
– A melhor prevenção é o monitoramento constante. Olhe seus livros de vez em quando, folheie, converse com eles e pergunte se está tudo bem. Só assim eles vão te contar se estão sendo atacados por cupins, mofo ou alguma outra treta dessa natureza.
– Álcool borrifado em uma flanela limpa e macia também pode ser usado para limpar capas plastificadas – APENAS capas plastificadas, aquelas bem brilhantes. Não faça isso com capas em couro, couro falso, envernizadas ou de papel. Pra essas a técnica é outra, e um pouco mais complicada – vai ficar pra outro post. Ah: e não use álcool gel.
– No post anterior sobre conservação de livros demos outras dicas preciosas pra evitar uma tragédia bibliófila, mas resumindo, é o seguinte: nunca use durex, papel contact, cola branca e outras gambiarras no afã de consertar seus livros. Elas só vão piorar a situação. Existem outras formas de fazer pequenos reparos, incluindo fitas especiais pra isso.
Buenas, espero que este post tenha sido útil. Até o próximo!
Na casa pra onde me mudei, tem muita traça. Pra evitar a comilança dos meus preciosos, embalei um a um em plástico. Estão protegidos, mas fico em dúvida sobre o tempo que posso deixar-los fechados, ou melhor, de quanto em quanto tempo é bom abrir para “tomarem um ar”.
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Olá. Uma professora dizia na facul que os livros tem que ter a dignidade de morrer de Pé… “empacotá-los” pra proteger não é o correto. O melhor seria capturar algumas traças e levar para uma empresa de dedetização para que indicasse o melhor remédio para combater eles. Uma alternativa pode ser a disposição de alguns saches de filó, tule ou murin (tecido fino de algodão) com naftalina. O cheiro forte espanta as traças. O ideal é verificar a cada dois meses, alguns livros das prateleiras, abrir, folhear as páginas e passar pano seco ou seguir as instruções lá de cima do blog. No meu blog: http://bibliosseguranca.blogspot.com/ a segunda postagem tem o contato de um grupo de biodeterioração que pode lhe dar mais algumas dicas. Boas leituras sempre.
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