Aire de Dylan

Aire“Ouvi” um trecho de Aire de Dylan, o mais recente romance do catalão Enrique Vila-Matas, lido pelo próprio autor, na Flip de 2012. Luxo. No trecho escolhido, Vila-Matas, em leitura rápida, sem nuances na entonação, destilou o sarcasmo típico de sua obra.

Aire de Dylan se insere no rol dos romances contemporâneos que tratam da literatura, de autores fictícios, editores, leitores. Enfim, é a literatura falando dela mesmo.

Isso me lembra conversa que tive com o simpático diretor do Instituto Cervantes em Porto Alegre, aficionado por literatura. Para ele, os escritores da atualidade passam sua vida entre aulas na universidade, congressos e feiras literárias e debates sobre literatura. Por isso, não encontram tempo para viver ou falar de outros assuntos. É uma boa hipótese, embora nem todos se dediquem a temas literários em seus romances.

Mas, voltando a Aire de Dylan, encontramos um filho às voltas com a obra de um pai recém morto. É um escritor famoso, que tem um círculo literário formado em sua homenagem. Temos Vilnius, o filho, e a maldita herança de Lancastre, o pai, adorado nos círculos ligerários, sucesso entre as mulheres e odiado por outros escritores e pela própria esposa.

Tudo nos é contado por um escritor de meia idade, disposto a nunca mais escrever. Ele encontra Vilnius em um congresso de… escritores e se interessa por sua obra em processo, que vem a ser “El Achivo General del Fracaso”, na qual o jovem pretende filmar a história do fracasso da humanidade. Vilnius se vê pressionado pela onipresença do pai morto, envolve-se com sua antiga amante e se vê enredado em uma forte suspeita de que Lancastre teria sido assassinado.

Para tentar encontrar os assassinos, Vilnius e a namorada fundam a Sociedad Aire de Dylan, “una infraleve e muy ligera” companhia de teatro, que vai desmarcarar os assassinos através de uma representação na sociedade literária dedicada ao pai.

Confuso? Não.

O livro tem como pano de fundo o relacionamento pai e filho. E gira em torno dos dilemas da criação artística, dos projetos nunca consolidados, das ideias perdidas em mesas de bar, na cama de hoteis ou em viagens de avião.

Vila-Matas usa de seu sarcasmo e de grandes doses de ironia para discutir a própria literatura, mostrando-nos uma suposta paralisia criativa de um escritor que não escreve e de um cineasta que não dirige. É um percurso literário pelas ruas de Barcelona e por seus hoteis, bares e livrarias. Livro para ser lido com atenção às inúmeras referências literárias e cinematográficas.
Uma curiosidade a respeito desse livro é que, segundo Vila-Matas, começou a ser escrito durante uma visita a São Paulo.

Li a edição em espanhol, da coleção Biblioteca Breve, da Seix Barral. Edição simples e de preço acessível, coisa que falta no mercado editorial brasileiro.

2 comentários sobre “Aire de Dylan

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