15 livros para curtir as férias

Praia, campo, montanha, visitar cidades pelo mundo ou mesmo ficar de bobeira em casa. Nada como as férias. E nesta época em que muita gente pega uns dias de folga, o Lombada Quadrada adverte: férias sem livro fazem mal à saúde.

Então, aproveite as horas de aeroporto e avião, o congestionamento no pedágio, as filas para compras no litoral, a hora de lagartear no sol, aquele momento de chuva em que você fica na rede da pousada ou a fila para o museu e siga as recomendações que já demos aqui. Por quê sempre há tempo e motivo para ler.

E como não poderíamos deixar de fazer, seguem algumas dicas, separadas em categorias, de livros que você pode aproveitar para devorar. Tem clássicos, romances históricos, nova literatura contemporânea brasileira, prêmios Nobel, um livro picante e até livros para adolescentes (ou adultos que querem uma leitura divertida). Aproveitem. E não deixem de contar pra gente o que estão lendo nas férias de verão. Sejam os indicados aqui ou outros. Queremos saber.

 

CLÁSSICOS

Cem anosLi Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, em uma viagem de fim de ano, em 1992, a Visconde de Mauá. Choveu pra caramba naqueles dias e me senti na Macondo do livro. Mas, com sol ou chuva, não teria desgrudado do romance do colombiano por causa de umas cachoeiras.

A história de Aureliano Buendía e a saga de sua família não são apenas o marco da literatura do realismo mágico. É uma baita história bem contada e envolvente, o que na verdade é a marca de toda a obra desse gênio, prêmio Nobel e grande humanista que foi García Marquez. Se não leu ainda, corra para comprar a ótima tradução brasileira publicada pela Editora Record. Se já leu, que tal se aventurar na releitura em espanhol. Está na minha lista para 2016, já que, em português, devorei Cem anos três vezes. E o livro sempre me surpreende.

 

Aos raros (e caros) leitores deste blog um alerta. Se ainda não leu Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, está perdendo um dos mais incríveis livroCidadess de toda a literatura. As cidades inventadas pelo viajante Marco Polo para narrar ao imperador dos Tártaros, Kublai Khan, as riquezas de seu reino são de um primor narrativo ímpar.

Narrativas concisas, palavras sonoras e inquietantes mostram os atributos de cada uma das cidades (todas com nomes femininos). Cidades douradas, cidades nas nuvens, no subterrâneo, cidades impenetráveis. Mais do que um livro, Cidades invisíveis é um sonho literário. Para ler e nunca mais tirar da cabeceira. A edição é da Companhia das Letras, que tem também uma versão de bolso, baratinha.

 

Bárbaros

Uma porrada na cara, do começo ao fim. Foi assim que me senti ao ler À espera dos bárbaros, de J.M. Coetzee, mais um dos prêmios Nobel de nossa
lista de férias. Imagine uma cidade que sabe da iminente invasão de uma horda de bárbaros. E que nada pode fazer contra isso. Pense no desespero e na grande bagunça que se instala em um lugar sem lei e sem perspectivas. Todos vão morrer? Quem são esses bárbaros? Quem são os verdadeiros bárbaros?

Uma grande alegoria que nos faz refletir sobre o mundo em que vivemos. É uma leitura densa, indicada para quem está naquele clima de reflexão e quer combater o pessimismo reinante pensando que é preciso combater a barbárie, sempre. O livro do autor sul-africano foi publicado por aqui pela Companhia das Letras.

 

Rayuella

O jogo da amarelinha, do argentino Julio Cortázar é um desafio. Logo de cara, o leitor se depara com um recado do autor:

“À sua maneira, este livro é muitos livros, mas é, sobretudo, dois livros. O leitor fica convidado a escolher uma das seguintes possibilidades:

O primeiro livro deixa-se ler na forma corrente e termina no capítulo 56, ao término do qual aparecem três vistosas estrelinhas que equivalem à palavra Fim. Assim, o leitor prescindirá sem remorsos do que virá depois.

O segundo livro deixa-se ler começando pelo capítulo 73 e continua, depois, de acordo com a ordem indicada no final de cada capítulo.”

Cortázar, sacanamente, dá a ordem dos capítulos. Ao fim de cada um deles, você recebe a indicação de pra onde deve ir. E até hoje não conheci quem tenha lido Amarelinha sem seguir essa ordem “aleatória”. Ou seja, ao ler, pulamos de casa em casa, tal qual na brincadeira infantil. E assim, seguimos uma galera pelas ruas de Paris, em busca de Maga. Mais do que essa busca, o livro traz muitas referências de cultura erudita, jazz, literatura, arte. A obra de Cortázar nunca foge do que ele sempre foi, um arguto observador do ser humano. Embarque em O jogo da amarelinha, publicado pela editora Civilização Brasileira. E fique atento. Na ordem maluca dos capítulos, o autor deixou um deles emparedado. Descubra qual é ou consulte o Google. Mas só o leia no fim.

 

ClézioJean-Marie Gustave Le Clézio ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 2008. Nem por isso, se tornou popular entre nós. Suas obras começaram a ganhar edições brasileiras muito recentemente, por graça da quase finada CosacNaify, que é responsável por nos trazer Refrão da fome. Sim, é um livro pesado. Mas é um clássico e vale a pena encará-lo nas férias. Da primeira à ultima palavra, Le Clézio te deixa impactado com o olhar da garota Ethel e o sofrimento com a ruína de sua família diante da brutalidade e do horror da 2ª Guerra Mundial. Nazismo, racismo, xenofobia e um quê de esperança compõe a narrativa. Um relato de como a tragédia coletiva abala o indivíduo e coloca em dúvida a existência humana. No pequeno prefácio do livro, o autor conta que passou fome. Sabe o que é isso. Mas afirma que a fome, nesse romance, é de outra natureza. Leia e descubra.

 

CamusUm desconcerto, o absurdo, a liberdade. O que é ser livre para um homem que enfrenta o tédio e, ao encarar a morte e um assassinato que comete de maneira impensada? E ele vai se enredando em uma trama à qual simplesmente não reage. Letargia? Desencanto? Estamos em O estrangeiro, um clássico da literatura e um clássico do existencialismo. E, como tal, um livro de inquietações para mentes pensantes.

Albert Camus, seu autor, francês de origem argelina, morreu cedo, em um acidente de automóvel. Era um dos grandes. Deixou uma obra pequena, recheada de clássicos. Camus, que é frequentemente ligado a Sartre, pensava o mundo de forma ainda mais radical que o filósofo. E seu estranhamento com o ser humano aparece em O estrangeiro e também em A peste, outro de seus grandes livros. Leia Camus nas férias. Guarde a leitura para uma tarde de chuva e desfrute de um dos melhores livros do século XX. A edição brasileira é da Record.

 

ROMANCES HISTÓRICOS

LisboaHistória do cerco de Lisboa não está entre os livros mais famosos do primeiro (e até agora único) Nobel de Língua Portuguesa. Aliás, é um não, colocado em uma frase de um livro didático de história que nos transporta ao cerco feito pelos cruzados para retomar Lisboa dos mouros. E aí conhecemos Blimunda, personagem que depois estará em outro livro de Saramago, o Memorial do convento (mas isso fica para outro post). Por meio de personagens como essa, você  conhece uma das marcas do autor, que prezava conta a “grande” história pela perspectiva da periferia dos acontecimentos.

O que aconteceria com a história de Portugal se Lisboa não tivesse sido retomada? Posso adiantar que você embarca na ironia de Saramago, para não querer mais sair da esteira na praia ou da beira da piscina.  Use protetor solar e leia sem moderação. E não se preocupe com a (falta de) pontuação dos livros de Saramago. Depois da terceira página você saca o movimento e lê sem problemas, acredite. A foto é da minha edição, a primeira (!!!). A editora continua a mesma, a Companhia das Letras, mas a capa atual é bem diferente.

Boca do InfernoAh, Ana Miranda. Quem lê Boca do inferno se apaixona. Pelo livro e pela autora. Pra mim, o maior romance histórico brasileiro, até agora. Ela nos conta a história do poeta genial e louco, Gregório de Matos, que viveu na Bahia do século XIX e deixou um rastro de sarcasmo e crítica política em seus poucos e intensos poemas. Procurador, homem de letras, bêbado e depravado. Você se envolve de tal maneira nessa história ficcional que depois quer saber mais. Então, pode aproveitar esta dica de Renata e ler a biografia que Ana Miranda lançou ano passado sobre o Boca do Inferno. Você vai sair do livro amando a prosa da autora. E vai descobrir que a obra dela vai muito além do romance histórico. O livro foi editado pela Companhia das Letras. As obras mais recentes da autora, incluindo a biografia, saíram pela Record.

 

Desvalidos

Coloquei Os desvalidos, do sergipano Francisco J.C. Dantas na categoria de romance histórico, porque não aceito o rótulo de romance regional que é dado às histórias que se passam no sertão nordestino. E porque ele parte de fatos históricos do cangaços para construir uma obra-prima da literatura brasileira. Este é um grande livro, uma saga contada a partir de um grupo de sertanejos que tentam se libertar do julgo do latifúndio. A história de Coriolano começa quando Lampião morre, nos anos 1930. Morte, perseguições, vendetas familiares e um desejo de viver marcam a história. Uma narrativa densa, que utiliza a linguagem do cordel para mostrar os caminhos erráticos de sertanejos que buscam, acima de tudo, a liberdade. A edição é da Alfaguara. É um daqueles livros para entrar na lista dos preferidos de todo o sempre. Ele já foi resenhado antes. Veja aqui.

 

PARA FUGIR DOS CINQUENTA TONS

HavanaQuer um pouco de pimenta em suas férias? Que tal a Trilogia suja de Havana, do cubano Pedro Juan Gutiérrez. Mas não espere por cenas de sexo coreografadas entre lençóis de linho, com mocinhas suspirantes e mocinhos limpinhos.

O cubano carrega nas tintas ao relatar o submundo de Havana. Sexo, crime, prostituição e até mesmo um bocado de afeto humano e solidariedade formam a teia de relações do narrador. Um retrato de Cuba? Sim. Mas também da mazelas humanas. E do quanto de afeto e sensualidade pode haver em meio à sujeira da qual o livro fala. A edição é da Objetiva e o livro pode causar transtornos se você não estiver perto de água gelada. Leia perto da piscina ou do mar, especialmente se você for menino.

 

UMA NOVA LITERATURA BRASILEIRA

Chave

Quem acompanha o Lombada sabe o apreço que temos pelos escritores contemporâneos. Muita coisa boa está sendo produzida e lançada. Fiquem atentos a livros como A chave de casa, de Tatiana Salem Levy, vencedor, em 2008, na categoria estreante do Prêmio São Paulo de Literatura e também do Prêmio Jabuti. Um romance que une mistério, uma saga familiar, a busca da identidade judaica perdida no passado inquisitorial e a procura, pela narradora, de respostas para inquietações que a atormentam. A edição é da Record. Capitulos curtos, livro que combina com as paradinhas para passar protetor solar, tomar uma cerveja e continuar mergulhando na trama para descobrir o que a misteriosa chave abre de fato.

 

MalaquiasTerminei Os Malaquias, de Andréa del Fuego, de queixo caído. Sem exagero, está entre os mais poderosos romances que li nos últimos anos. A edição caprichada da Língua Geral ajuda a nos enredar nessa trama mágica e trágica dos Maquias, os irmãos Nico, Antônio e Julia, abatidos pela perda dos pais. Soltos pelo mundo e enredados em um novelo de histórias paralelas de um universo fantástico em torno da Fazenda Rio Claro, na Serra Morena. As desventuras desses irmãos, a loucura de uma cidade ameaçada por uma represa (!!), os lugares míticos para onde vão os personagens deixaram em mim uma vontade de reler A invenção de Morel, de Adolfo Bioy  Casares, não sem bem o porquê. A força dos personagens de Os Malaquias é tamanha que autora dedica o livro a eles. Escritora para ser lida e seguida, Andréa del Fuego mostra um talento invulgar. Eu, tu, lia já.

 

PARA A GAROTADA

 

Pinóquio

Chega de livrinhos pra colorir e histórias da carochinha. Se seus filhos já passaram dos 12 anos, precisam encarar literatura de verdade. Um bom começo pode ser essa edição integral de Pinóquio, lançada pela CosacNaify (corra enquanto é tempo!). E não se deixe enganar por livros recontados. Leve as crianças ao texto original, que é mais rico, traz mais do que uma moral da história e é muito mais bem escrito.

 

Velho e o Mar

A luta do homem contra o peixe é o pano de fundo da narrativa do clássico O homem e o mar, de Ernest Hemingway. O velho Santigo sai para o mar aberto não apenas para enfrentar um marlin gigante e mítico. Ele vai enfrentar seus demônios e provar aos colegas de sua aldeia de pescadores que tem força e coragem para trazer do mar o seu sustento. Ideal para adolescentes que acham que a vida é fácil. Literatura para provocar. E para formar pessoas. A edição que temos é da Bertrand Brasil, mas existem outras em português.

 

 

Rua PauloOs meninos da rua Paulo, livro do húngaro Ferenc Molnár, rendeu até música do Ira!. Este romance formou uma geração de garotos desejosos de aventuras com a gangue da rua. E que aventuras são essas vividas nas ruas de Budapeste? Brigas, richas e a morte como um rito de passagem.

Para a atual geração de adolescentes, o livro vai parecer algo exótico. Como assim? Essas crianças viviam na rua? Podiam atravessar quarteirões e bairros? Os pais deixavam que se sujassem em terrenos baldios? A edição mais recente em português é muito caprichada e, adivinhe: é da CosacNaify. A tradução é a clássica, de Paulo Rónai, muito boa. Dê o livro aos filhotes e não reclame caso eles formem uma gangue no condomínio.

 

 

 

10 comentários sobre “15 livros para curtir as férias

  1. Ótimas recomendações, adorei as resenhas. Me deu o empurrãozinho que precisava pra finalmente começar a ler O Jogo da Amarelinha, que já estava empoeirando na estante. Valeu!

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      1. Estou ainda mais curioso quanto a esse capítulo emparedado. Quando terminar, volto aqui pra contar o que achei.

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  2. Tenho Cidades Invisíveis e Cien Anos…, porém, estão em uma lista gigante de cerca de 500 livros que estão aqui em casa para ler. Na lista deste ano estão A Montanha Mágica de Thomas Mann e Don Quijote de Lá Mancha também da Real Academia . Mas voltando às indicações da lombada , fiquei interessado pelo Os Desvalidos.Valeu pelas dicas!

    Curtido por 1 pessoa

    1. São dois livros fundamentais. Pode por na lista de prioridades que você não vai se arrepender.
      E Os desvalidos é um livraço! Aventure-se!
      Boa leitura!

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  3. Gostei da sua lista. terminei dia desses , Cem anos de solidão ,que na verdade foi uma releitura apaixonada. Desnecessários comentários da obra.
    Ao terminar sua lista, não consigo deixar de pensar no Velho e o mar, mas como também seria uma segunda leitura, estou me contendo, rs… E por isso, curiosa e muito pendente a sua dica de Os Malaquias.
    Até mais, porque gostei e vou voltar.
    Paz e Bem.

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  4. Lista maravilhosa, me fez lembrar que ainda preciso ler A espera dos Bárbaros e reler o Estrangeiro, este último com um significado todo especial para mim. Quando estava no último ano da faculdade de jornalismo entrei em crise e fui procurar ajuda de uma orientadora vocacional, uma freira psicóloga , que ao avaliar o meu teste me indicou ler esse livro. Foi quando descobri que eu sou uma existencialista por natureza.

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