A pandemia de coronavírus teve os efeitos mais estranhos sobre o comportamento da humanidade. O isolamento social parece ter despertado o interesse das pessoas por livros ou, pelo menos, é o que nos dizem as estatísticas do blog: se em 2019 tivemos 69 mil visualizações de páginas e cerca de 25 mil visitantes, estamos prestes a fechar 2020 com quase 121 mil visualizações e 58 mil visitantes, mesmo postando menos que em anos anteriores.
Talvez reflexo do Black lives matter, o post mais procurado foi 14 autores negros que você deveria conhecer, que escrevi em novembro 2019. Também foi bastante acessado A volta ao mundo em 75 contos fantásticos, de Carlos. Muita gente também chegou aqui no Lombada buscando referências sobre A montanha mágica, de Thomas Mann. Se eu pudesse chutar alguma coisa a partir das estatísticas do blog, diria que este momento de crise provocou um interesse maior por clássicos da literatura.
Do lado de cá, a pandemia afetou bastante meus hábitos de leitura e pela primeira vez em muito tempo não consegui cumprir minha meta para o ano, que era de 65 livros (cheguei aos 59). Mudou também o perfil das leituras: por motivos que envolveram necessidades profissionais e a candidatura ao mestrado em Museologia (sim!), grande parte do meu ano foi dedicada à leitura corporativa ou acadêmica. Enquanto a pandemia me empurrou para os clássicos (olha a leitura enviesada das estatísticas!), a crise política me levou a mais volumes de ensaio e não-ficção.
Já Carlos seguiu firme e forte na literatura contemporânea; bateu a meta do ano chegando aos 62 livros e cumpriu direitinho a proposta ler tantas autoras quanto autores (eu me perdi feio nessa). Pra quem tiver curiosidade, os gráficos abaixo resumem toscamente o perfil das leituras que fizemos esse ano, e quem tiver mais curiosidade ainda, pode ver a lista completa em nossos Goodreads (aqui o meu, aqui o de Carlos).

Sim, mas… e os melhores do ano?
2020 também foi complicado para estabelecer a nossa lista de melhores leituras. Tradicionalmente, cada um de nós elenca os dez livros preferidos e aqueles que coincidem nas duas listas levam o título de melhores – simples assim. O problema é que em 2020 lemos poucos títulos em comum (quase nada), em grande parte por minha causa, pelas razões explicadas acima. Portanto, a escolha que já era bem arbitrária ficou mais arbitrária ainda, com uma mudança de regra no fim do jogo. Tivemos que ampliar o parâmetro de coincidências para incluir livros que um de nós leu esse ano e o outro leu em anos anteriores.
No fim das contas, apenas o primeiro da lista é um lançamento de 2020. Todos os demais entram no segundo caso: publicados entre 1605 e 2008, estão longe de serem novidades. Mas aí está a beleza da literatura: cada encontro entre um livro e um leitor acontece na sua hora própria e justa. Por isso, encarem nossa lista não como um ranking, mas como um punhado de dicas de leitura para aproveitar a qualquer tempo.
Sem mais delongas, aqui vão as melhores leituras de (mais ou menos) 2020:

- A mulher submersa, de Mar Becker (poesia)
- A morte de Ivan Ilítch, de Liev Tolstói (novela)
- Anna Kariênina, de Liev Tolstói (romance)
- Veneno remédio, de José Miguel Wisnik (ensaio)
- Porcos com asas, de Marco Radici e Lidia Rivera (romance)
- 2666, de Roberto Bolaño (romance)
- Don Quijote, de Miguel de Cervantes (romance)
Fora estes que coincidiram, também gostaríamos de compartilhar com vocês o restante de nossas listas individuais. Tenho certeza de que vários dos livros mencionados por Carlos teriam entrado na lista principal, se eu os tivesse lido este ano.
Carlos:
- Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior (romance)
- A casa das aranhas, de Márcia Barbieri (romance)
- A ilha de Arturo, de Elsa Morante (romance)
- A ocupação, de Julián Fuks (romance)
- Literatura fantástica, de Afonso Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo (coletânea de vários autores)
- Fogo morto, de José Lins do Rego (romance)
- O Mestre e Margarida, Mikhail Bulgákov (romance)
- O que ela sussurra, de Noemi Jaffe (romance)
Renata:
- Mulheres, raça e classe, de Angela Davis (ensaio)
- Máquinas como eu, de Ian McEwan (romance)
- Sociologia do Futebol, de Richard Giullianotti (ensaio)
- Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores, de Ariano Suassuna (romance)
- Epopeia de Gilgamésh (poesia)
A todos que nos acompanharam, desejamos um 2021 menos confuso e mais democrático. Enquanto isso, aguentem firme, usem máscara, tomem a vacina, cuidem-se e leiam bastante. ❤
Sempre muito bom acompanhar vocês, Renata e Carlos!
Que 2021 seja mais leve pra todos nós!
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Obrigada, Claudia! Pra você também!
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Ótimo ano pra você também. E muito obrigado pelas visitas e comentários.
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Olá Renata, estou lendo a montanha mágica de Thomas Mann no kindle. Quero ir até o fim. Gostei dos seus comentários sobre esse livro.
Depois vou ler Ulisses de James Joyce .
Acabei de ler A casa dos espíritos de Isabel Allende
Abraços,
Lila
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Oi, Lila, obrigada pela leitura! Li Ulisses em inglês e foi uma jornada BEM difícil e longa. Acho que um dia quero ler novamente em uma boa tradução em português. De toda forma, é um clássico que vale a pena, fez entender opções estéticas de vários outros autores. 🙂
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Muito obrigado pelo complimaneto. Aliás, só conheci o blog agora e estou impressionado com tamanha qualidade do conteúdo.
Abraços,
Gustavo Woltmann
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Obrigado, Gustavo. Ficamos felizes em saber que nossas dicas levam outros leitores e leitoras aos livros de que gostamos.
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